Em janeiro, valor médio apurado pelo centro ficou 16% acima em relação ao verificado em dezembro de 2023; alta permanece neste início de fevereiro.
Os preços da laranja pera in natura têm disparado no mercado brasileiro acompanhando oferta limitada do ciclo 2023/24 e o período de entressafra neste momento. O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP), inclusive, atingiu recorde em janeiro no país, com preço médio de R$ 78,89 por caixa de 40,8 quilos. Para a indústria, que representa aproximadamente 80% do mercado no país, o cenário é bastante parecido ao de mesa.
O valor médio apurado pelo centro em janeiro representa um salto de 90% em relação ao mês de janeiro do ano passado e está ainda 16% acima em relação ao que foi verificado em dezembro de 2023, em termos reais (com valores deflacionados pelo IGP-DI dez/23). Até o mês passado, o maior valor em termos reais do índice havia sido de R$ 74,92/caixa, em novembro de 1994. Na quarta-feira (07), o indicador da laranja in natura era de R$ 86,70 por caixa e indústria estava em R$ 53,13 a caixa.
O Cepea projeta que a oferta de laranja pera deverá continuar limitada neste mês de fevereiro no país, que ainda é considerado entressafra. “A produção na safra atual está na média; porém, os baixos estoques de suco de laranja aumentam a necessidade de compra da matéria-prima, reduzindo a oferta de laranja no mercado in natura. Quanto à procura, players ouvidos pelo Cepea afirmam que ela está firme, já que as temperaturas são elevadas, favorecendo o consumo da fruta”, reporta.
Andres Padilla, analista do mercado de suco de laranja no Rabobank, explica que os preços do suco de laranja também estão em alta no cenário internacional. “O mercado continua com estoques mínimos e os compradores estão aceitando novas altas nos preços do suco concentrado no mercado internacional. O calor extremo observado no quarto trimestre de 2023 em São Paulo impactou negativamente a parte final da safra 2023/24 que está se encerrando agora”, destaca.
Após três anos consecutivos de déficits no balanço de oferta e demanda do mercado global de suco de laranja (2020/21, 2021/22, 2022/23), os estoques caíram para patamares críticos, segundo o Rabobank, em uma clara sinalização de falta de produto. “Isto levou a preços recordes no segundo semestre do ano passado na medida em que os compradores de suco industrializado aceitaram preços maiores para garantir suprimentos nos Estados Unidos e na Europa. De qualquer forma, essa situação não vai se resolver no curto prazo, o que mantém os preços elevados”, afirma Padilla.
Diante de todo esse cenário, o Rabobank espera continuidade de preços firmes para a fruta ao longo de 2024. “Há dúvidas sobre como será de fato a nova safra 2024/25 considerando o calor nos últimos meses e as chuvas abaixo das médias históricas pelos efeitos do El Niño. Provavelmente, teremos uma nova safra levemente menor (2024/25) comparada com a atual (2023/24), o que deve sustentar os preços da fruta em patamares elevados com forte demanda da indústria”, pontua o analista do banco.
O ItaúBBA também destaca a perspectiva de oferta apertada de laranja e suco no mundo, mas pondera que há expectativa de melhora da safra americana pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), outro grande produtor global da fruta, mas o balanço deve seguir apertado. “Acreditamos que os preços do suco em NY e da caixa de laranja ao produtor brasileiro seguirão elevados em função dos baixos estoques no BR e da próxima safra brasileira possivelmente pequena também”, afirma Cesar Castro Alves, gerente da consultoria Agro do Itaú BBA.
“Vemos mais é uma baixa oferta e não exatamente um aquecimento de demanda. O calor forte no Brasil, em tese, ajuda no consumo da fruta mas não temos indicadores/sensibilidade da demanda pela fruta. Nos Estados Unidos, os sinais seguem de queda das vendas, o que faz sentido em função dos preços elevados”, complementa o analista do Itaú.
Em termos de demanda, o analista do Rabobank acrescenta que há indicadores que precisam ser acompanhados. “As vendas no varejo americano e europeu apresentaram quedas próximas de 15% em volume no ano passado para suco de laranja. Se esse ritmo de queda da demanda final continuar em 2024, pode ajudar a equilibrar o mercado gradativamente nos próximos meses, mas de qualquer forma os estoques vão permanecer em patamares críticos por pelo menos mais uma safra, sustentando os preços da fruta e do suco em níveis elevados”, diz.
Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, associação que reúne as principais empresas produtoras e exportadoras brasileiras de sucos cítricos e seus produtos, explica que o setor vem de algumas safras baixas. “Existe uma restrição de oferta da fruta, que caminha para o quinto ano consecutivo, e isso tem impacto nos fundamentos econômicos, ou seja, oferta e demanda que é o que precifica tanto o suco quanto a fruta”, afirma. A CitrusBR não comenta as movimentações de preços registradas no mercado.
CENÁRIO DE PREÇO PARA AS INDÚSTRIAS
Para a indústria, o cenário de preços não é muito diferente do registrado no mercado in natura, com valores para a laranja pera e variedades tardias em verdadeiro recorde desde novembro do ano passado. “Desde então, [o mercado] vêm renovando o nível recorde da série do Cepea, iniciada em 1994. Porém, os valores agora estão caindo, considerando o fechamento de novos negócios”, explica o centro. O preço médio da laranja pera e das variedades tardias para a indústria foi de R$ 57,68 por caixa de 40,8 quilos, colhida e entregue, em janeiro, com uma alta de 10% em relação ao mês anterior e 76% em relação a janeiro de 2023, em termos reais.