Tanto as grandes marcas de cerveja quanto as cervejarias artesanais consideram os homens seus principais clientes há anos. Mas, quando as cervejarias britânicas começaram a mudar de foco, afastando-se do marketing sexista, as marcas americanas passaram a correr atrás.
Agora, marcas importantes como a americana Miller Lite e a Corona estão adotando técnicas similares para dirigir seus anúncios às mulheres – e marcas como a Talea produzem cerveja destinada a grupos diversos de consumidores desde a sua fundação.
À medida que aumenta o número de mulheres que consomem álcool, até ultrapassando o número de homens, o mundo da cerveja passa a contar com elas como clientes – e começa a considerá-las um mercado importante, que antes era colocado de lado em um setor dominado pelos homens.
Imperativo econômico’
A jornalista especializada em bebidas alcoólicas Kate Bernot já escreveu extensamente sobre as mudanças demográficas do consumo de cerveja para a coluna Sightlines do site Good Beer Hunting. Ela chama o marketing inclusivo de “imperativo econômico”. Bernot observa uma forte razão para esta mudança, que é o aumento do número de mulheres em posição de comando nas salas de reunião historicamente masculinas das cervejarias.
Um exemplo é a CEO (diretora-executiva) da Heineken norte-americana, Maggie Timoney, que subiu os degraus da companhia até assumir o posto máximo em 2021. E, na Molson Coors (americana), Michelle St. Jacques é a principal diretora comercial desde março de 2023. Bernot menciona ainda o aumento do poder de compra das mulheres. As projeções indicam que as mulheres norte-americanas devem ser responsáveis por três quartos dos gastos não essenciais do país em 2028. Todos esses fatores estão impulsionando a indústria cervejeira.
Não foram só as empresas já existentes que perceberam a necessidade de mudar suas mensagens ao público. Os recém-chegados ao setor também encontram oportunidades comerciais, definindo as mulheres e outros consumidores historicamente esquecidos como seus principais mercados. Uma forma de atingir esse público é adaptar as embalagens e os nomes das cervejas para evitar a exclusão, além de produzir cervejas com maior variedade de sabores. A Talea oferece uma variada linha de cervejas. Diversas delas contêm bases mais suaves ou notas de frutas, que nem sempre são incluídas nas seleções de cervejas escuras ou pesadas, com alto teor alcoólico, de muitas cervejarias.
“Nós pesquisamos os dados de avaliação do BeerAdvocate e descobrimos que a maioria das 10 principais cervejas consumidas por pessoas identificadas como mulheres eram cervejas azedas, contra cervejas Stout e IPA com alto teor alcoólico, que têm avaliação mais alta entre os homens”, afirma Hankinson.
“Isso inspirou nosso portfólio de cervejas frutadas com baixo amargor”, prossegue ela. “Nossa visão é que as mulheres passam a conhecer a cerveja artesanal com perfis de sabor que elas conhecem e adoram – elas passam então a confiar em nós e, com sorte, experimentam nossas outras cervejas, além das do tipo Sour.”
A estratégia está funcionando. Atualmente, Darland e Hankinson estimam que 70% dos clientes da sua choperia são mulheres. Mas as fundadoras da cervejaria rapidamente advertem que suas cervejas não são as bebidas “diet” que compõem grande parte do mercado de álcool dirigido às mulheres.
“Muitos potenciais investidores nos perguntaram a contagem de calorias ou se nós seríamos a ‘Skinnygirl’ [empresa produtora de álcool com baixo teor de calorias] da cerveja. As mulheres não são simples consumidoras de bebidas diet… nossas clientes investem em experiências.” Averie Swanson, fundadora da Keeping Together – um projeto de fabricação de cerveja em pequenos lotes de Santa Fe, no Novo México (EUA) – é da mesma opinião.
“Se você levar em consideração as preferências das mulheres na indústria cervejeira, você também irá atrair consumidores homens que simplesmente não gostam dos produtos atuais”, afirma Kate Bernot. “Você também irá falar para pessoas que não eram atendidas [pelo seu marketing anterior].” Averie Swanson concorda e acrescenta que a inclusão do setor não trata necessariamente de essencialismo de gênero. Na verdade, é a resposta natural à onda de mudanças culturais.
“As pessoas, coletivamente, estão apenas mais conscientes sobre o que estão mostrando para o mundo e como estão representando a si próprias e às suas marcas”, destaca Bernot. “Elas estão empoderadas para sair e influenciar o mundo das marcas de bebidas alcoólicas, pois elas têm o poder e o desejo de encontrar produtos que sejam significativos para elas.”
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1d21l35v78o